sábado, 27 de junho de 2009

Recebi do Rielli.
Muito bom!

Conto real, ainda não revisado.


Os vasos de porcelana.....

O telefone tocou e do outro lado uma pessoa educadíssima perguntou se eu conseguiria restaurar vasos de porcelana, e perguntou qual seria o provável resultado do restauro. Contei que a porcelana, não é difícil para ser restaurada e que o trabalho fica perfeito, e coisa e tal..
Na verdade, restauro em porcelana, é muito trabalhoso, porque a maioria das partes tem que ser unidas com a inclusão de pinos, para que em um período curto não venham a se soltar, o retoque, foi com tinta rápida, tipo duco, alem de ter que desfazer as "colagens" caseiras que normalmente são feitas ou para escapar do restaurador, ou para tentar burlar os patrões.
Mas enfim, a moça do telefone se identificou como secretaria executiva do presidente de uma grande empresa, e que iria me remeter os vasos de porcelana para que eu orçasse.
Até me esqueci disso, mas um dia, chegando ao meu atelier assim que abri a porta vi minha assistente máster, com os olhos arregalados olhando pra mim tipo “vai vir trovão”... Bom, eu já fiquei preocupado que algo tivesse dado errado, afinal restaurador não tem o direito de errar, nunca! Segui a Katty ate a sala de identificação e lá estavam os vasos de porcelana.. Duas privadas!! Pois é... duas privadas brancas básicas! Eu fiquei louco da vida, queria jogar pela janela, como alguém podia ser tão tapado a ponto de mandar duas privadas pra um restaurador Fine Art´s, esbravejei por meia hora, mas me acalmei, e com a mente completamente diabólica, peguei o telefone e liguei pra secretaria que havia mandando as peças.
Ela atendeu ao telefone, perguntou se eu havia recebido os vasos de porcelana e orçado.
Eu calmamente, disse que sim, que tinha feito a perícia de sinistro e orçamento, relatei os procedimentos a serem tomados, e que o custo da restauração de seria de R$ 7.000,00 restauro de cada um dos “vasos”. Ela anotou, disse que iria consultar o seu diretor e me retornaria com uma posição. Desliguei o telefone de “alma lavada” feliz da vida porque os deixaria indignados, porem mais bravos do que eu havia ficado. Foi realmente uma doce vingança. Fiquei atento a cada toque do telefone, eu fazia questão de se mesmo a atender a ligação de retorno. A secretária ligou, primeiramente falou que sabia da minha capacidade profissional etc...e qual não foi minha surpresa quando disse que orçamento havia sido aprovado, e que o próprio presidente da empresa vira fazer o pagamento antecipado.
Na hora eu pensei... PEGADINHA!! Imagine, uma bacia sanitária deve custar pouco mais e cem reais! Porem com dia marcado, hora marcada, um senhor, cercado de seguranças chegou ao atelier, era o dono dos agora "santos vasos de porcelana", que tinha vindo pagar o restauro antecipadamente.
Conversando com ele, decifrei a charada. Os vasos eram de dois vagões ferroviários do final do século XIX, sendo um vagão restaurante e outro vagão Pullmann que estavam em perfeito estado e são raríssimos, meu cliente havia construído em sua fazenda uma linha ferroviária, com duas estações e esses vagões, iram percorrer o trajeto enquanto os amigos jantavam e se divertiam. Cada um desses vagões tinha originalmente as próprias toaletes, e essa foi essa a origem dos santos vasos. O restauro ficou perfeito, era pouca coisa a ser feita, mas ficou muito bom mesmo, a ponto de o cliente me repassar uma pequena incumbência, comprar uma Maria Fumaça, pelo valor que fosse. Pesquisei no Brasil as 416 locomotivas do tipo ainda existentes, mas nenhuma estava à venda, pois ou eram patrimônios publico, ou objeto de massa falida, como o cliente estava disposto a pagar mais de um milhão, fui mais longe.. encontrei uma na Bolívia.. mas essa é outra historia. Agora, se eu chegar no atelier e tiver uma granada encima da mesa de identificação, eu coloco a dita cuja na minha cama.

Carlos Rielli

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